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quarta-feira, 14 de março de 2018

FÉ COMO CRENÇA RELIGIOSA x FÉ COMO CONFIANÇA EM ALGUÉM

A palavra Fé segundo o livro dos Hebreus é o “fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê” (Hb 11,1). Para entender melhor esse conceito é preciso interpretar algumas palavras. A primeira delas é fundamento que para o dicionário Aurélio significa: “alicerce, a causa, ou seja, o motivo”. Já a palavra esperança pode ser definida numa perspectiva teológica, pois se trata de uma das três virtudes teologais: “por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade”... (1 Cor 13,13). Porém, ainda não ficou claro esse conceito, por isso vamos entendê-lo a partir de Russ que diz que: esperança, na sua etimologia latina, também é compreendida pelo verbo esperar: sperare. Significa: “espera aberta; que não versa sobre resultados externos (como expectativa), mas sobre a realização do ser pessoal, ou sobre uma mudança radical da condição humana” (Dicionário de
filosofia, 1994, p.89). Já Heráclito, filósofo grego (540-470 a.C.) afirma que: “sem a esperança não se encontra o inesperado, que é incontestável e inacessível (Russ,J. Op. cit., p.89). E o que é a certeza? Para o dicionário online Dicio é o: “conhecimento certo, total e absoluto, segurança plena e total, aquilo sobre o qual não há dúvidas”, etc. Por fim, até agora entendemos com essas concepções que a palavra fé resumidamente significa: motivo de esperar em alguém que não vai nos decepcionar mesmo não o vendo.
E a crença religiosa? Separando as palavras para melhor compreensão, a primeira delas, crença, é de origem latina que significa: credentia.ae. Segundo o dicionário Aurélio crença é “aquilo sobre o que se considera verdadeiro”, ação de crer na verdade ou na possibilidade de uma coisa, é ter fé no âmbito religioso: crença em Deus; crença nos santos, etc. Já a segunda, religiosa, segundo o site infopédia significa: pessoa que professa uma religião, observador dos preceitos da religião que professa, devoto, pio, figurado zeloso, escrupuloso, figurado pontual, etc. Ou seja, podemos inferir que a crença religiosa está relacionada a alguém que crê em algo, porém é observador de preceitos doutrinais de alguma religião. Nesse caso podemos dizer que é cumpridor de regras, de leis, de deveres, por fim é muito preocupado com detalhes daquilo que se deve fazer para cumprir bem aqui que foi determinado. E confiar em alguém, o que significa isso? Novamente trabalharei com as palavras isoladamente para melhor compreendê-las. Segundo o dicionário informal confiança significa: intimidade, amizade, afeição, afeto, amor, confiança, dedicação, relação, etc. Já a palavra alguém segundo o site lexico.pt é um pronome indefinido, ou seja, é uma pessoa importante, digna de consideração ou alguma pessoa cuja identidade não é especificada ou definida. 
De acordo com os conceitos levantados até agora já podemos deduzir a diferença entre “fé como crença religiosa” x “fé como confiança em alguém”. Pois, as definições levantadas nos ajudarão a ter uma melhor compreensão acerca do assunto abordado. Para tanto farei menção a um texto do evangelho de João onde Jesus curou um paralítico em dia de sábado cuja Lei Judaica proibia. "E os judeus diziam ao homem curado: É sábado, não te é permitido carregar o teu leito" (Jo 5, 1-17). Jesus quebra essa lei que virou uma “crença religiosa”, pois o que importa é tirar aquele homem da inércia. Por outro lado, o paralítico quem nem conhecia as leis e doutrina judaica estava "em Jerusalém, junto à porta das Ovelhas” (Jo 5,2), local sagrado e religioso, "estava ali havia trinta e oito anos" esperando por um milagre (Jo 5,5) e nenhum religioso tinha olhado para ele. Mas Jesus é diferente deles, ele olhou para o paralítico, pois conhecia a sua fragilidade humana. Nós também muitas vezes duvidamos do Senhor igual o paralítico: "não tenho ninguém que me ponha no tanque, quando a água é agitada" (Jo 5,7). Além de nossas dúvidas existenciais, também não conhecemos a Jesus: "o que havia sido curado, porém, não sabia quem era" (Jo 5,13). Contudo, o Senhor nos dá a chance de conhecê-lo pela confiança do milagre realizado: “no mesmo instante, aquele homem ficou curado” (Jo 5,9). De imediato e não suportando a letargia, Jesus exorta aquele homem a mudar de vida: "Levanta-te, toma o teu leito e anda" (Jo 5,8), e ele obedeceu.
O trecho citado do Evangelho de João nos ensina muito acerca da “fé como crença religiosa” x “fé como confiança”. Pois, o primeiro tende nos aprisionar num campo cercado de regras, de leis e doutrinas que muitas das vezes não leva em conta o ser humano e sua situação existencial, ele é um mero cumpridor de deveres religiosos. Já o segundo, percebe sim uma intimidade, um relacionamento, uma confiança entre duas pessoas, e tudo é levado em conta, pois o amor está acima de tudo. O próprio Jesus e o paralítico são exemplo disso, pois, a confiança daquele homem o tira da marginalidade que aprisionava e o deixava refém de uma realidade religiosa que nada podia fazer por ele há anos. Mas quando confiou no Senhor a sua vida transformou, após o encontro com Jesus à vida já não é mais a mesma coisa, por isso é preciso deixar o velho, ficar próximo do Templo é não caminhar, logo, é preciso partir para uma nova vida.
Portanto, quero fechar esse texto com as palavras de um filósofo contemporâneo que diz: a atitude de confiança em Deus é mais profunda do que a atitude de fé como crença, ou seja, de acreditar num monte de leis e normas que não nos levarão para uma experiência real e pessoal com o sagrado.

* O Maria concebida sem pecados, rogai por nós que recorremos a vós!

Wander Venerio Cardoso de Freitas
Especialista Em Ensino Religioso – Teólogo.

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