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sexta-feira, 11 de março de 2011

Foram os judeus que condenaram Jesus ?


O povo judeu, como tal, não condenou Jesus: esta afirmação de Bento XVI, no segundo volume de seu livro sobre o Cristo - "Jesus de Nazaré. Da entrada em Jerusalém até à Ressurreição" (Ed. Principia) - suscitou elogios entre expoentes judeus. Mas o que diz o texto?Para responder a esta pergunta, é preciso folhear as páginas até chegar ao capítulo sobre o "julgamento de Jesus", quando Ele está diante de Pilatos. "Quem eram exatamente os acusadores? Quem insistiu em que Jesus fosse condenado à morte?", pergunta-se o Papa. "De acordo com João, são simplesmente ‘os judeus'. Mas esta frase de João não indica de forma alguma o povo de Israel como tal - como talvez o leitor moderno poderia pensar - e muito menos tem um tom ‘racista'. Afinal, o próprio João pertencia ao povo de Israel, como Jesus e toda a sua família. A comunidade cristã primitiva estava formada inteiramente por judeus." "Esta expressão tem, em     * ** ** ** *

João, um significado muito preciso e rigorosamente delimitado: com ela, ele se refere à aristocracia do templo. Assim, no quarto Evangelho, o círculo dos acusadores que buscam a morte de Jesus é descrito de forma precisa e claramente delimitada: Trata-se precisamente da aristocracia do templo, e inclusive esta não sem exceções, como dá a entender pela alusão a Nicodemos", fariseu e membro do Sinédrio. O Papa, então, analisa a questão no Evangelho de Marcos, no qual, no contexto da anistia da Páscoa (Barrabás ou Jesus), aparece o "ochlos", quem opta por soltar Barrabás. "Ochlos", esclarece o Papa, "significa, antes de tudo, simplesmente um monte de pessoas, a 'massa'".
"Não admira que a palavra tenha uma conotação negativa, no sentido de ‘ralé'. Em todo caso, não indica o ‘povo' dos judeus propriamente dito. Esta ‘massa' é, na verdade, formada pelos partidários de Barrabás, mobilizados pela anistia; naturalmente, como rebelde frente ao poder romano, podia contar com certo número de simpatizantes".
"Portanto, estavam presentes os seguidores de Barrabás, a ‘massa', enquanto os seguidores de Jesus permaneciam escondidos, por medo; por isso, a voz do povo com a qual contava o direito romano se apresentava unilateralmente. Assim, em Marcos, existem os 'judeus', ou seja, os círculos de sacerdotes distinguidos, e também o ochlos, o grupo de partidários de Barrabás, mas não o povo judeu em si."

Os verdadeiros acusadores de Jesus

"O ochlos de Marcos se amplia em Mateus com consequências fatais, pois ele fala do ‘povo inteiro' (27,25), atribuindo a ele a petição de que Jesus fosse crucificado. Com isso, Mateus certamente não expressa um fato histórico: como poderia ter estado presente naquele momento todo o povo, pedindo a morte de Jesus? A realidade histórica aparece de maneira notoriamente correta em João e Marcos. O verdadeiro grupo dos acusadores são os círculos do templo daquela época, aos quais, no contexto da anistia da Páscoa, associa-se a ‘massa' dos partidários de Barrabás."
Alguns atribuíram a "culpa" do povo judeu na morte de Jesus a partir das palavras relatadas por São Mateus no meio da multidão que pede a morte de Jesus: "Seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos" (27,25).
No entanto, esclarece o Papa e teólogo Ratzinger, "o cristão recordará que o sangue de Jesus fala um idioma muito diferente que o de Abel (cf. Hb 12.24); não clama por vingança e punição, mas é reconciliação. Não se derrama contra ninguém, mas é derramado por muitos, por todos".
Estas palavras, conclui, "significam que todos nós precisamos do poder purificador do amor, que essa força está em seu sangue. Não é maldição, mas redenção, salvação. Somente sobre a base da teologia da Última Ceia e da cruz, que percorre todo o Novo Testamento, as palavras de Mateus sobre o sangue adquirem seu verdadeiro sentido."

Um passo nas relações judaico-cristãs


Esta passagem tem sido usada para dar um passo adiante nas relações entre judeus e cristãos, segundo declarou nos últimos dias o presidente da União das Comunidades Judaicas Italianas, Renzo Gattegna. Por outro lado, o porta-voz da Federação das Comunidades Judaicas da Rússia, Andrei Glotzer, elogiou as palavras do Papa.


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