Dezenas de acidentes podem azedar uma receita. O doce que era bom e que todo mundo elogiava, de repente, por algumas razões, acaba azedando, a tal ponto que até mesmo os donos da receita não sabem explicar o que houve. Dá-se o mesmo com os casamentos. Gente boa, que só fez o bem na vida, de repente azeda de tal maneira a sua relação que, estarrecidos os amigos reagem com incredulidade. – Eles? Não! Todo mundo menos eles! Tenho visto isso ao longo do meu sacerdócio. Amigos meus, que pareciam ser um par de pombinhos, acabam rompendo de tal maneira, que nem se olhar conseguem mais. Ele diz que não tem o que mudar e que não vai mudar. Se ela casou com ele daquele jeito é daquele jeito que vai ser até o fim. Ela diz que .......
tudo muda, o tempo muda, os rios mudam, um povo muda e até a religião muda, então porque o mister imutável não pode fazer um esforço para saber mais, ler mais, ser mais gentil, mostrar mais presença, vestir-se melhor, adquirir bons modos, vir do trabalho na hora certa?
O debate vai longe. Ele acaba indo cuidar de seus negócios e ela dos dela. Os dois se dizem feridos e desrespeitados. Chega a hora em que um diz ao outro que já cedeu demais e dali não passa. Fiz até uma canção sobre isso; “Já não se amam”. Infelizmente acontece e acontece com gente boa. Agora, enquanto escrevo, posso lembrar pelo menos uns 50 casamentos de católicos e evangélicos que não conseguiram mais se encontrar. Acabou o encanto, a admiração e a paciência. Em muitos casos, não há outra pessoa. O que há é a pessoa que não aceita se atualizar e bate o pé dizendo que quem tem que mudar é a outra. É uma pena que o que foi tão bonito acabe desse jeito.
Quando a receita, que era boa e dela todo mundo queria uma cópia, azeda, a primeira coisa que se deve é tentar descobrir qual, ou quais ingredientes contribuíram para azedar a relação. Não demora e as filhas ou os filhos falam: falta de gentileza, um dos dois é livre demais, tem outra pessoa no pedaço, bebida, desmazelo, imposições, fuga do lar, cansaço, rotina, a mãe mudou, o pai ficou atrasado, o pai mudou demais, não lêem nada sobre as mudanças do mundo, falta religião serena e inteligente, competição entre os dois, a mãe não quer mais o pai, ela tem outro modelo de homem em mente, ele está dando uma de jovenzinho…O pai é convencido. O pai é bronco. A mãe virou dondoca…
Uma conversa em família mostra que os filhos já sabiam há tempos, os vizinhos e parentes já percebiam e ninguém tinha a coragem de enfrentar os dois. É difícil, porque, um dia, um não cede, outro dia o outro não cede e há dias em que os dois não cedem. E há os que se fazem de vítima. Um dia ele, outro dia ela. Fica realmente difícil ajudar quem acha que não precisa de ajuda, ou acha que é maior vítima. Parecem Adão e Eva discutindo com Deus. “Foi ela, foi ele, foi a serpente!”
É mais fácil ajudar aquele casal que diz: – Errei, e da minha parte vou tentar mudar. Não sei se vou conseguir, mas vou tentar!” O amor vem á cavalo na humildade. Mas quando o amor bobeia, a primeira coisa que faz é apear da humildade. Orgulho ferido é mau conselheiro. Receitas que azedam devem ser revistas. Algumas delas acabam dando certo. Outras, não mais. Depende do tamanho do azedume e do grau de humildade. Quem disse que casar é fácil? Quem disse que perdoar é fácil? Quem disse que é fácil ser humilde? Quem é que gosta de ceder?
Fonte: http://www.padrezezinhoscj.com
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