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sábado, 15 de setembro de 2018

AS DORES DE UMA MULHER AO VER A MORTE IGNOMINIOSA DE DEUS NA CRUZ

Maria foi preparada desde muito tempo para a paixão tão ignominiosa quanto dolorosa de seu filho. Ele, que tantas vezes a havia predito aos seus discípulos (Mt. XVI, 21; XVII,21,22; XX, 17-19; Mc. VII, 31; IX,30; X, 32-35; Lc. IX,22, 44; XVIII, 31-33), sem dúvida não deixou sua mãe na ignorância. Aliás, o destino de Maria estava por demais ligado ao de Jesus para não ser mais bem informada que os outros sobre o que havia de acontecer, e com luzes mais distintas e profundas quanto ao grande plano da redenção do gênero humano, que devia ser fruto de morte violenta.
Desde o começo das prédicas de Jesus, ela não tardou a perceber a má disposição dos principais da nação a seu respeito. Soube da inveja, do ódio, das calúnias, dos conluios (conspiração) para a sua perda. Via aproximar-se dia a dia o momento fatal. Pode-se imaginar que impressão causava em seu coração materno esta horrenda perspectiva, sempre presente a seus olhos. A espera certa e a previsão de um mal inevitável é às vezes cruz mais pesada a suportar que o próprio mal; e pode-se afirmar que, depois que foi decidida a morte de Jesus e Maria dela informada, passou ela a sofrer antecipadamente os tormentos que experimentou ao pé da cruz.
Deus não quis poupar a mãe mais que o filho, fazendo de sorte que ela não ignorasse nenhuma das circunstancias principais da paixão. Eram golpes que lhe estavam reservados, aos quais não se podia subtrair. Além disso, sendo mãe, não seria a primeira a querer minúcias sobre os maus tratos infligidos a seu filho? Acrescente a isto o modo sobrenatural com que encarava a paixão, como o efeito de seu amor ao pai e aos homens – o que devia aumentar ainda sua santa curiosidade.

Foi avisada da traição de Judas, e da prisão violenta de Jesus, pelos próprios apóstolos, que estavam presentes e que o abandonaram (Mt. XXVI, 47-50,55,56; Mc.XIV, 43-45, 48-50; LC.XXII, 47,48,52,53; Jo.XVIII, 3,4-9,12). Por João, que foi testemunha do que se passou durante a noite em casa de Anás e Caifás, soube da sentença de morte pronunciada contra Jesus como blasfemo, por se intitular filho de Deus. (Mt. XXVI, 57, 59-68; Mc.XVI, 53,55-65; Lc.XXII,54, 65-71; Jo. XVIII, 13,14, 19-24).
Ela o viu com seus próprios olhos levado no dia imediato ao pretório de Pilatos, daí ao palácio de Herodes e de lá de novo a Pilatos; soube por si mesma, ou pela multidão, de como foi tratado (Mt. 1,2,11-14; Mc. XV, 2-5; Lc. XXIII, 1-11; Jo. XVIII, 28-38). Estava presente quando Pilatos subiu ao tribunal público; escutou as acusações feitas contra seu filho; compreendeu, pela fúria dos inimigos e pela fraca e tímida política do governador, que ele estava irremediavelmente perdido. Estava presente ainda quando foi exposto com o corpo cortado de açoites, o rosto contundido de socos, a cabeça cingida pela coroa de espinhos, os ombros cobertos com um velho manto de púrpura e tendo uma cana na mão como cetro; presente quando o povo preferiu Barrabás e pediu sua morte com gritos furiosos dizendo: Levai-o, levai-o, que seja crucificado, o que era o mais infamante suplício (Jo. XIX, 15; Mt. XXVIII, 15-31; Mc. 6-20; Lc XXIII, 13-25; Jo. XVII).
Seguiu-o com outras mulheres quando levou a cruz até o Calvário, sucumbindo ao peso, por fraqueza e esgotamento, a cada passo. Estava presente quando o despojaram de sua túnica pondo-lhe à mostra as feridas, quando o estenderam sobre a cruz, quando o cravaram com pregos, quando o levantaram com horríveis sacudidelas, quando os principais e o povo o insultavam e ultrajavam com os mais cruéis escárnios (Mt. XXVVII, 31-33, 39-41; Mc. XV, 20-22,25,29-32; Lc. XXIII, 26,32-33,35-37;39; Jo. XIX, 17,18). Que espetáculo para esta mãe, para a mãe de um tal filho! Como foi excessiva a sua dor! Como foi profunda! Ao mesmo tempo, quanta submissão! Quanta firmeza! Quanta paz! Seu coração não ficou acabrunhado: uma graça extraordinária a sustentou para que pudesse sofrer ainda mais.
Enfim, quando foi possível, ela aproximou-se da cruz com João e Madalena, ficou em pé, - o que denota sua coragem e força divinas – e nesta posição, os olhos fixos em seu filho, sem derramar uma lágrima, esperou que desse o último suspiro (Mt.XXVII, 50; Mc.XV, 37; Lc.XXIII,46; Jo.XIX, 25,30). Que sentimentos agitaram então seu coração? Não havia um único que não fosse sobrenatural e heroico. Mais forte e mais generosa que a mãe dos Macabeus, fazia o sacrifício pleno e total deste filho tão querido; unia-se à justiça do pai celestial que imolava esta grande vítima à sua glória; com ele, Maria imolava o novo Isaac, penhor dos pecados do gênero humano. Seu grande coração oferecia a morte dele para a salvação de cada um de nós, e a esta oblação juntava a sua imensa dor. Deste modo cooperou verdadeiramente em nosso resgate e o título de Redentora lhe pertence tanto como a Jesus Cristo o Redentor. O sacrifício da mãe não foi separado do de seu filho. Muito menos lhe teria custado dar a própria vida e é por isso chamada Rainha dos Mártires.
Que lições sublimes Maria nos dá aqui! E como é, neste quadro, o modelo perfeito das almas interiores, às quais Deus faz sofrer as últimas provações! São muitas as suas penas: mas podem ser comparadas às de Maria? Aquelas morrem para si mesmas e Maria morre por Jesus Cristo. Que elas não se queixem, pois, mas, para que tenham forças, lancem um olhar para a Mãe das Dores e invoquem-na, conseguindo, por sua mediação, imitar sua firmeza, constância e generosidade. Depois de Jesus na cruz não há para elas um livro tão belo como Maria ao pé da cruz.

 Fonte: Livro: A vida de Maria - Pe. Jean Nicolas Grou.

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