Muito já se escreveu sobre masturbação, e alguém
pode perguntar por que a necessidade de escrever mais sobre o assunto. Mas há
novas maneiras de pensar o problema, bem como a minha própria experiência no
contato de ajudar pessoas que procuram deixar a masturbação. O que me deu
vários “insights” sobre a psicologia da masturbação, a partir do estudo do
vício em sexo, do qual a masturbação é um grande exemplo. Fiquei também
impressionado com grupos de suporte que levam a sério a questão da masturbação,
tais como o “Sexaholics Anonymous (S.A.), Sex and Love Addicts Anonymous
(S.L.A.A.), e Courage. Outra razão para que eu escreva, é que muitas pessoas
que lutam contra essa fraqueza não recebem o adequado aconselhamento espiritual
e moral. Em alguns casos eles são orientados de forma errada, dizem-lhes que
a masturbação melhora a “performance” do ato conjugal, ou que faz parte do
processo de recuperação das dificuldades sexuais. É bem sabido que o hábito da
masturbação atinge pessoas de todas as idades, sendo encontrado entre crianças,
adolescentes, adultos, casados, idosos. Por favor observe que digo “tendência”
(mais precisamente, tendência desordenada). Muitas pessoas têm encontrado,
de diversas formas, controle sobre essa tendência com um programa espiritual.
Outros, entretanto, lutam no escuro, e é para esse grupo que escrevo.
Considerações psicológicas sobre o hábito da
masturbação
A masturbação é algumas vezes chamada de
“auto-abuso”, ou onanismo, ou ainda em livros seculares, “auto-estimulação”.
Quando a estimulação psíquica acontece durante o sono, é conhecida como polução
noturna. O Pe. Benedict Groeschel usa
o termo masturbação para referir-se a ações que acontecem no estado de sono ou quase sono, ou a ações de crianças e comportamento sexual pré-adolescentes, reservando o termo “autoerotismo” para a atividade de adolescentes mais velhos e adultos “que por uma variedade de razões volta-se a si mesmos e encontram aí um substituto para a vivência real nesse comportamento simbólico e intensamente frustrante”. No clássico artigo, o Pe. Jos. Farraher, S.J. descreve a masturbação como “a estimulação dos órgãos sexuais externos até um ponto de clímax ou orgasmo pela própria pessoa, através de movimentos com a mão ou outros contatos físicos ou através de estímulos como figuras ou imaginações (masturbação psíquica), ou através de uma combinação de estimulação física e psíquica”. Em um sentido mais amplo, isso inclui a masturbação mútua, na qual as pessoas tocam os genitais um do outro. Mas talvez a descrição mais incisiva do hábito da masturbação esteja em uma carta de C.S. Lewis, citada por Leanne Payne em “The Broken Image”:
“Para mim o verdadeiro mau da masturbação consiste no
fato de que ele pega um apetite que, no uso correto, levaria o indivíduo para
fora de si a fim de completar (e corrigir) a própria personalidade na
personalidade de outra pessoa (e finalmente nos filhos e até nos netos) e a
inverte, fazendo-a voltar-se para a prisão do “si mesmo”, a fim de manter um
harém de esposas imaginárias. E esse harém, uma vez admitido, trabalha contra a
chance da pessoa um dia sair dele e realmente se unir a uma mulher real. Isso
porque esse harém está lá, sempre acessível, sempre subserviente, não exige
sacrifícios ou ajustes, e pode ser acompanhado de atrações eróticas e
psicológicas que nenhuma mulher real pode trazer”. Essa citação pode
ser aplicada também às mulheres. Ela expressa o significado da masturbação como
uma fuga pessoal da realidade em direção à prisão da luxúria.
Fatores
que contribuem ao hábito da masturbação
A masturbação é um fenômeno complexo. Não iremos
compreender porque uma pessoa cai nesse hábito enquanto não conhecermos algo
sobre sua história, sobre as causas do problema. Escutando as pessoas logo se vê que a solidão é a principal
causa, levando o indivíduo ao isolamento, fantasia, e masturbação. A
solidão geralmente vem acompanhada de sentimentos de profunda auto-depreciação
e ressentimento. Quando o mundo real é duro e proibitivo, a pessoa se volta
para a fantasia, e quando a pessoa perde muito tempo em um mundo de fantasia,
torna-se escravo de objetos sexuais (pois essa é a maneira com que ele vê as
pessoas, como objetos sexuais). Daí a pessoa entra no mundo irreal, mas
prazeroso, da própria imaginação. Esse é o princípio do vício sexual, tão bem
descrito por Patrick Carnes. O hábito da
masturbação se transforma muito frequentemente em vício, ou seja, a pessoa não
consegue mais controlar a atividade masturbatória, apesar de grandes esforços
nesse sentido. Normalmente falta a essa pessoa um “insight”, ela precisa de
terapia em conjunto com uma direção espiritual. Entretanto, às vezes o hábito
da masturbação é temporário e circunstancial.
Ao nível pastoral não tem sentido nem serve para
nada especular o quão responsável foi o viciado em masturbação pelo seu
passado. É melhor ajudá-lo a preparar um programa espiritual. A maneira mais errada de lidar com a
questão é pensar que os adolescentes vão parar de se masturbar quando
crescerem. Muitos não deixam. Outro mito é
dizer que quem pratica a masturbação tem menor chance de ter relações reais com
outra pessoa de outro sexo ou do mesmo sexo. Isso pode ser verdade em algumas
circunstâncias, mas a masturbação pode levar a agir com outras pessoas. Em
alguns casos a masturbação já foi até recomendada como meio de aliviar as
tensões do corpo, como uma forma de “terapia sexual”. Outros terapeutas usam a
masturbação como um modo (alegam) terapêutico de reviver experiências sexuais
traumáticas da infância (esse tipo de tratamento não é mais usado por
terapeutas de prestígio). A masturbação mútua tem sido usada por homossexuais
como forma de “sexo seguro”.
Outros conselheiros minimizam o problema,
não dão conselho algum, a não ser “não se preocupe com isso”. De fato muitos
consideram a masturbação um “não-assunto”, ou talvez um problema puramente
psicológico. E por aí vai.
Parece, entretanto, que a atitude correta é tratar
a masturbação habitual e compulsiva como um problema aberto à soluções, desde
que a pessoa siga um projeto espiritual. Ele deve assumir a responsabilidade
pelo seu futuro. À medida que vai se tornando mais livre da desordem, ele
também se torna mais responsável. Isso vai se tornando mais claro, e posso
mostrar algumas situações típicas.
Adolescentes
É fato que adolescentes têm sido bombardeados com estímulos
sexuais pela mídia, e os pais muitas vezes falham em dar orientações morais.
Por isso não é surpresa alguma que os adolescentes não saibam nada sobre a
moralidade da masturbação. Muitos já se envolvem e se tornam viciados na
prática antes mesmo de se conscientizarem plenamente que ela é moralmente
errada. Eu uso o termo “plenamente” porque, apesar de toda a lavagem cerebral de
nossa cultura, muitos jovens sentem que a masturbação é errada.
Ao mesmo tempo eles se sentem incapazes de
controlar um hábito já existente, e em sua vergonha e culpas escondem-se e
fogem de discutir o assunto com conselheiros. Incertos sobre si mesmos, confusos
acerca dos valores propostos pela cultura, e algumas vezes pela própria
família, esses jovens facilmente se refugiam no mundo da fantasia do prazer
sexual. Muitas
vezes temerosos de relacionamentos reais com pessoas do outro sexo, eles
mergulham no mundo da fantasia da masturbação. Adicione-se a isso o caos moral
e os conselhos errados sobre masturbação em aulas e “especialistas” e você pode
compreender porque nossos jovens sequer mencionam no confessionário a
masturbação como um problema moral.
Precisamos fornecer direcionamento espiritual adequado
aos jovens, reconhecendo seu desejo de ser casto, e dando-lhes conselhos
específicos no assunto.
Talvez falhemos em perceber a quantidade de culpa
presente em jovens com o hábito da masturbação. Eles percebem que há algo
errado no que fazem, apesar de lhes falarem para “não se preocupar com isso”,
ou “você não pode fazer nada”, ou “quando você crescer isso passa”. Eles
precisam de orientação, mas não a receberão enquanto não forem informados sobre
a moralidade da masturbação, e os fatores psicológicos que muitas vezes os
impedem de exercer o livre-arbítrio. A minha opinião (e a de outros
confessores) é que muitos adolescentes não comparecem à Santa Comunhão aos
domingos por sentirem que não conseguem superar o hábito.
Já com relação aos jovens adultos, o mito diria que
esse hábito é para passar nessa idade. Mas com o casamento acontecendo cada vez
mais tarde (depois dos 25 anos), com noivados durando anos a fio, e com o
constante estímulo da mídia e da propaganda, não é surpresa que muitos homens e
mulheres da masturbação, algumas vezes masturbação mútua.
Outras pessoas solteiras vivem na fantasia quando
não estão trabalhando. Sem namorar com ninguém por uma variedade de razões,
incertos sobre o que fazer da vida, e sem compromisso com esposa e filhos,
frequentemente eles buscam refúgio em várias formas de fantasia, como revistas
eróticas, etc. Estão muito ocupados com vários compromissos, e muito
solitários. Sua tendência a se masturbar muitas vezes extrapola para um
intercurso genital quando surge a oportunidade. Em outras palavras, seu ídolo é
o sexo.
É muito difícil chegar a esse grupo, que muitas vezes
só vem à Igreja na Páscoa e no Natal, para agradar a família. Talvez quando
chegarem aos 30 anos e perceberem que há mais na vida do que só sexo, aí então
venham buscar auxílio espiritual. Aqui a atividade sexual não é tanto o
problema, mas um sintoma de uma profunda fuga do que é espiritual.
Quanto aos adultos mais maduros, é minha
experiência que quando cristãos atingem os 30 anos sem ter escolhido uma
vocação na vida, tal como casamento, vida religiosa, sacerdotal, ou uma vida de
solteiro servindo a Cristo no mundo, eles começam a se perguntar pelo sentido
da vida pessoal. Ainda assim, os desejos sexuais permanecem fortes como antes,
e talvez mais intensos, e a pessoa pode gastar mais tempo da fantasia, levando
à masturbação frequente. Isso, por sua vez, produz fortes sentimentos de
vergonha e culpa. Se a pessoa não procura orientação espiritual para o
problema, ou se quando procura não encontra nenhuma ajuda, ela vai continuar
levando esse peso para a terceira idade.
Acredito que as seguintes diretivas são úteis:
(1) Ajude a pessoa a refletir sobre o sentido da
vida, suas esperanças, suas conquistas, seus desapontamentos, suas frustrações,
sua solidão. Tente descobrir o que consome a pessoa, já que a masturbação
geralmente é um sintoma da inquietude da alma, e precisamos atacar as causas do
problema primeiro.
(2) Se possível, procure construir com a pessoa um
projeto espiritual de vida.
(3) Conscientize a pessoa que a maioria dos seres
humanos têm a tendência de fugir para mundos prazerosos de fantasia quando a
realidade se torna dura e difícil, e a masturbação geralmente surge a partir da
fantasia sexual. A estratégia espiritual é aprender como trazer a pessoa de
volta da fantasia para a realidade tão cedo quanto possível, assim que se
percebe que a fantasia sexual está envolvendo a pessoa. A oração ajuda muito,
assim como começar a fazer algo de externo e físico, como por exemplo caminhar,
fazer algum trabalho doméstico, e daí por diante. Já aconteceu de você se
encontrar em uma fantasia de raiva, de inveja ou sexual, e o telefone tocar, e
quando você vai atender a fantasia desvanece? A questão é se manter na
realidade.
(4) Além de compartilhar o problema com um diretor
espiritual, tente encontrar um grupo de suporte com o “Sexaholics Anonymous
(S.A.)”. Cultivar amizades reais com pessoas reais reduz significativamente o
poder da fantasia sexual, e dá à pessoa um sentido de valor pessoal.
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Por John F. Harvey, OSFS
Trecho do artigo “The Pastoral Problem of
Masturbation”, de John F. Harvey, OSFS. Disponível no site Courage.net
Fonte: http://www.comshalom.org
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