Havia guerra e pavor ao redor, mas o que Santa Bernadete Soubirous temia era de outra natureza. Em um contexto marcado pela guerra franco-prussiana, com a França em desespero após a derrota de Napoleão III, ela declarou com uma simplicidade desconcertante: “Eu só tenho medo dos maus católicos”.
Santa Bernadete é uma figura emblemática, conhecida principalmente por suas aparições de Nossa Senhora em Lourdes. Após as visões que mudaram sua vida, ela ingressou na vida religiosa no convento de Nevers, onde adotou o nome de Irmã Marie-Bernard. O ano de 1870 foi um período conturbado; os ecos da guerra ainda reverberavam pelo país, e a população vivia com a constante ameaça dos soldados prussianos que marchavam pelo norte da França, causando pavor e incerteza.
Por volta do dia 9 de dezembro, com as tropas prussianas se aproximando de Nevers, o cavaleiro Gougenot des Mousseaux decidiu visitar a religiosa para discutir a situação alarmante. Ele estava ciente do clima de temor que pairava sobre a cidade e buscava saber o que uma santa como Bernadete poderia revelar em meio a tanta angústia. As respostas da santa foram registradas pelo Conde Lafond, que, em suas anotações, demonstrou um certo desprezo pela figura de Santa Bernadete. Ele a descreveu como alguém que “não serve para nada” e, no entanto, a considerava um “tesouro” para o convento de Saint-Gildard. Segundo ele, ela era vista como um baluarte da cidade episcopal, e muitos a creditavam com a salvação durante a invasão prussiana de 1870, quando os soldados estavam quase às portas de Nevers.
Durante a conversa, Gougenot des Mousseaux fez uma série de perguntas a Santa Bernadete, buscando respostas que poderiam oferecer esperança ao povo aflito. Ele indagou se ela havia recebido alguma revelação da Santíssima Virgem relacionada ao futuro da França. A resposta de Bernadete foi clara e direta: “Não.” Sem se deixar abalar pela gravidade da situação, ela foi questionada sobre o medo que os prussianos causavam na população. Novamente, sua resposta foi surpreendente: “Não.” Quando o cavaleiro indagou se não havia nada a temer, Bernadete reiterou sua única preocupação: “Eu só tenho medo dos maus católicos.” Essa resposta ressoava não apenas como uma inquietação pessoal, mas como um apelo à consciência coletiva dos fiéis.
A coragem de Santa Bernadete e sua determinação em manter o foco na vida espiritual e na verdadeira essência da fé revelam uma sabedoria profunda. Enquanto muitos temiam a destruição física e a perda iminente, ela se preocupava com a saúde espiritual da comunidade. Os maus católicos, segundo sua perspectiva, eram aqueles que poderiam desvirtuar a fé, espalhar divisões e desespero em um momento em que a unidade e a esperança eram mais necessárias do que nunca.
Nesse contexto de guerra e incerteza, as palavras de Santa Bernadete nos convidam a refletir sobre o que realmente deve nos preocupar. Ela nos ensina que, em tempos de crise, a verdadeira missão dos cristãos é viver a fé de forma autêntica e comprometida, buscando não apenas a proteção divina, mas também a integridade moral e espiritual. O medo dos maus católicos nos chama a uma vigilância interior, a um retorno à essência do cristianismo que preza pela caridade, pela verdade e pela comunhão.
Em resumo, a experiência de Santa Bernadete durante um período turbulento nos lembra que a fé verdadeira não é uma mera crença em dogmas, mas uma vivência ativa de amor e serviço. Em meio a guerras e conflitos, ela nos ensina que devemos temer mais a ausência de amor e a superficialidade da fé do que qualquer ameaça externa. A coragem de permanecer firme em nossos princípios e a busca por uma vida católica genuína são, sem dúvida, os maiores desafios que enfrentamos em qualquer época.
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