São muitas as coisas que me
impedem de tornar-me protestante, mas a principal é a questão da autoridade.
Certo dia, quando estava em meu processo de reconversão, fiz a seguinte
pergunta para mim mesmo: “Quem tem a autoridade final? A Bíblia ou a Igreja?”
Coloquei-me a ler a Bíblia, pedindo a Deus que me ajudasse a responder essa
pergunta. Entre tantos textos que li, o que mais me marcou foi o de 2Timóteo
3,14-16:
“Tu, porém, permanece naquilo que
aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido, e que
desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio
para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus. Toda a Escritura é divinamente
inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para
instruir em justiça” (2Timóteo 3,14-16).
Esse texto me levou a fazer-me
mais perguntas, porém não tanto sobre a autoridade final – que foi a minha
primeira pergunta -, mas da origem e desenvolvimento da Bíblia; porque creio
que ela seja Palavra de Deus, em que parte da Bíblia é dito que toda ela é
Palavra de Deus? Como se pode perceber, uma pergunta me levou a fazer muitas
outras. Mas foi essa passagem que me fez refletir o seguinte:
O versículo 14 põe ênfase em
“permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o
tens aprendido”. Nem todos aprendemos sobre Deus através do mesmo meio. Eu, por
exemplo, aprendi sobre Deus através da Igreja Católica; pode ser que outra
pessoa tenha aprendido através de alguma denominação cristã protestante. É algo
válido, é claro. Porém, aqui, voltei à pergunta inicial: quem tem a autoridade
final? O que me levou a refletir no versículo posterior.
O versículo 15, menciona que
“desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras”, o que no meu caso é
totalmente verdade, pois desde a minha meninice conheço a Bíblia graças à
Igreja Católica. Talvez este não seja o caso de outras pessoas, mas é o meu.
Lembro-me que certo dia perguntei
a uma amiga protestante: “Quem te transmitiu a Bíblia?” e ela me respondeu que
tinha sido Deus através do seu pai, que era pastor na sua denominação. Sua
resposta me levou a uma outra pergunta: “Quem transmitiu a Bíblia ao
Cristianismo?”. A resposta realmente me confirmou o que os versículos
anteriores já tinham me levado a pensar: foi a Igreja Católica que se
encarregou de transmitir a Bíblia ao Cristianismo. Já podem me ver questionando
sobre quem tem a autoridade final entre a Bíblia e a Igreja: uma questão que me
nasceu em razão de diversas conversas com amigos protestantes estava me levando
a confirmar o motivo de ser católico e não protestante. Ainda assim, o
versículo seguinte precisou ser analisado com calma.
O versículo 16, um texto que usa
a expressão “divinamente inspirada” em relação às Escrituras, me levou a fazer
ainda outra pergunta: a quais Escrituras ele se refere? Por acaso se refere à
Bíblia inteira, como me diziam meus amigos protestantes? Mas a quais livros: os
da Bíblia católica (73 livros) ou os da Bíblia protestante (66 livros)? Estas
perguntas me levaram a indagar novamente a origem e o desenvolvimento da Bíblia
através da História, o que me fez constatar que a expressão “Escritura divina”
é usada só nos séculos IV e V, nas atas conciliares dos Concílios da Igreja
Católica, fazendo referência porém aos livros que encontramos na Bíblia
católica, isto é, incluindo os 7 livros que faltam nas Bíblias protestantes.
Isso foi extremamente
interessante para mim, porque compreendi que o versículos 16 de 2Timóteo 3 não
se referia a qual Bíblia era inspirada por Deus, mas se percorro a História do
Cristianismo encontrarei a expressão semelhante “Escritura Divina” fazendo
referência aos livros que [só] encontro no cânon bíblico católico, o que me faz
pensar que, para o Cristianismo, a Escritura inspirada por Deus são os 73
livros que encontramos na Bíblia católica – mais uma razão que me impediu de ir
para o protestantismo.
Mesmo assim, esse versículo me
ensinava que essas Escrituras (Bíblia católica) eram proveitosas para ensinar,
para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça: justamente o que a
Igreja Católica faz com elas, seja para ensinar nas aulas de catequese, ou para
corrigir e educar na justiça em cada homilia que faz na Missa após a leitura do
Evangelho.
Tendo refletido sobre esse texto,
voltei novamente à pergunta inicial: “Quem tem a autoridade final? A Bíblia ou
a Igreja?” e simplesmente compreendi que, se não fosse pela Igreja, eu não
conheceria a autoridade da Bíblia; logo, a autoridade final não recai sobre a
Bíblia – como pensam os protestantes -, mas sobre aquela Igreja que se
encarregou de transmitir a Bíblia como Palavra de Deus.
Entenda-se aqui “autoridade” como
o ente que interpreta e ensina o que a Palavra de Deus quer ensinar, contando
com a garantia de ser guiada pelo Espírito Santo. É evidente que o
protestantismo não conta com esta garantia, não porque não pode ser guiado pelo
Espírito Santo, mas porque é absurdo imaginar que a Igreja que transmitiu a
Bíblia como Palavra de Deus deixou de ser, em algum momento, guiada pelo
Espírito Santo; ou que só no século XVI, quando se originou o protestantismo,
que o Espírito Santo pôde guiar pessoas fora da Igreja para ensinar o que diz a
Bíblia. Isto parece lógico? Na verdade, não!
Ademais, sabemos que o
protestantismo, ao dar guarida aos princípios da “Sola Scriptura” e do “livre
exame”, deu origem a uma infinidade de interpretações, umas diferentes das
outras, gerando uma nova denominação cristã a todo momento, cada qual crendo
que interpreta corretamente a Escritura enquanto que as outras denominações
interpretam de maneira equivocada. Em outras palavras: acabam sendo suas
próprias autoridades finais e não a Bíblia, como alegam. Esta é outra razão que
me impede de me tornar protestante.
Autor: Richbell Meléndez
Fonte:
https://www.facebook.com/profile.php?id=100023448994014
Tradução: Carlos Martins Nabeto
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