No terceiro capítulo, mostro que Irmã Lúcia ecoou o tema do Terceiro Segredo em algumas de suas palavras e cartas, nas quais enfatiza a ação do demônio em nossa era. Já em 1957, ela confiava ao Pe. Fuentes, “(...) o demônio está travando uma batalha decisiva contra a Santíssima Virgem. E como o demônio sabe o que é que mais ofende a Deus e o que, em menos tempo, lhe fará ganhar um maior número de almas, trata de ganhar para si as almas consagradas a Deus, pois que desta maneira o demônio deixa também as almas dos fiéis desamparadas pelos seus chefes, e mais facilmente se apodera delas.”
Mas é especialmente numa série de cartas escritas entre 1969-1970, pouco conhecidas mas de grande importância, que Irmã Lúcia usa expressões impressionantes para descrever a atual crise da Igreja. E, não deixemos de notar que por meio da mão de uma alma tão humilde e submissa à autoridade, tais expressões graves certamente ecoam as palavras escutadas dos lábios da própria Santíssima Virgem, em sua mensagem final a respeito da proteção da fé e do bem-estar da Igreja.
“Vejo pela sua carta,” escreve ela a um padre, “que estás preocupado com a desorientação de nosso tempo. É triste, de fato, que tantas pessoas se deixem dominar pela onda diabólica que está varrendo o mundo e que estão tão cegos a ponto de serem incapazes de ver o erro! A principal falta é que abandonaram a oração, e deste modo distanciaram-se de Deus, e sem Deus, falta tudo. O demônio é muito astuto e busca nossos pontos fracos querendo nos derrubar. Se não formos diligentes e cuidadosos para obter forças de Deus, certamente iremos cair, pois nosso tempo é muito perverso e nós somos fracos. Apenas a força de Deus pode nos sustentar.”
Numa carta a uma amiga que está zelosamente envolvida na defesa da devoção mariana, Irmã Lúcia escreve:
“Nossa Senhora pediu e recomendou que se reze o Terço todos os dias, repetindo o mesmo em todas as aparições, como que prevenindo-nos para que, nestes tempos de desorientação diabólica, não nos deixemos enganar por falsas doutrinas... Infelizmente, em questões religiosas, a maioria das pessoas é ignorante e se permitem ser levadas por qualquer coisa. Daqui, a grande responsabilidade daquele que tem o dever de conduzi-las... É uma desorientação diabólica que está invadindo o mundo, perdendo as almas! É preciso fazer frente ao demônio.”
Em 16 de setembro de 1970 ela escreve a uma religiosa amiga[5]:
“Pobre Senhor, que nos salvou com tanto amor, e tão pouco compreendido é! Tão pouco amado! Tão mal servido! É doloroso ver tanta desorientação, e em tantas pessoas que ocupam lugares de responsabilidade!... Temos nós, tanto quanto nos seja possível, que procurar reparar, por uma união cada vez mais íntima com o Senhor, identificar-nos com Ele, para que Ele seja, em nós, a luz de um mundo mergulhado nas trevas do erro, da imoralidade e do orgulho. Faz-me pena ver o que me diz, do que também já por aí se passa!... É que o demônio tem conseguido infiltrar o mal, com capa de bem, e andam cegos a guiar outros cegos, como nos diz o Senhor no seu Evangelho; e as almas vão-se deixando iludir... De boa vontade me sacrifico, e ofereço a Deus a vida; pela paz da Sua Igreja, pelos sacerdotes e por todas as almas consagradas, sobretudo por aquelas que andam tão iludidas e tão transviadas!”
Para a confidente de Nossa Senhora, o demônio não está apenas neste mundo “decadente”, “mergulhado nas trevas da imoralidade e do orgulho.” O demônio está presente também na própria Igreja, onde tem seus “seguidores” e “partidários”, que estão sempre “avançando com intrépida audácia.” Diante deles, há muitas “pessoas tíbias” que não têm coragem de lhes fazer frente. Demais, não se trata apenas de tibieza ou de negligência pastoral. Irmã Lúcia afirma implicitamente que é a própria Fé que está sob ataque. Ela fala de “falsas doutrinas” e de “confusão diabólica”, de “cegueira” entre os que “possuem grandes responsabilidades” na Igreja. Ela lamenta o fato de tantos pastores “se deixarem dominar pela onda diabólica que está invadindo o mundo.” Acaso há forma mais exata de descrever a atual crise da Igreja? É a crise de uma Igreja que decidiu pactuar com um mundo em que reina Satanás.
Irmã Lúcia insiste, “A Santíssima Virgem sabia que esses tempos de desorientação diabólica chegariam.” Estas palavras da vidente, além de muitas outras que poderíamos citar, serão explicadas com clareza, e colocadas em proeminência, se em 13 de julho de 1917, no seu Terceiro Segredo, a Virgem tiver predito especificamente essa “desorientação diabólica” que de súbito invadiria a Igreja caso Seus pedidos não fossem atendidos.
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