1. O Contexto Histórico da Compilação do Antigo e Novo Testamento
A Bíblia começou com as Escrituras Hebraicas, ou Antigo Testamento, que já eram reconhecidas como sagradas antes do nascimento de Jesus Cristo. Os primeiros cristãos, incluindo os apóstolos, utilizavam a Septuaginta, uma tradução grega do Antigo Testamento que incluía livros adicionais conhecidos como deuterocanônicos.
Referência Teológica: A Septuaginta foi amplamente aceita pela Igreja primitiva, inclusive sendo citada por autores do Novo Testamento. Conforme Bruce M. Metzger em The Canon of the New Testament, "o uso da Septuaginta pelos apóstolos demonstra sua aceitação tácita como Escritura" (Metzger, 1987, p. 50).
2. Os Primeiros Concílios: Definindo o Cânone Bíblico
Com o crescimento do cristianismo, a necessidade de uma definição oficial do cânone tornou-se urgente devido a heresias emergentes e interpretações divergentes. O Sínodo de Roma (382 d.C.) sob a liderança do Papa Dâmaso I, seguido pelos Concílios de Hipona (393 d.C.) e Cartago (397 d.C.), foi fundamental para estabelecer o cânone que incluía os 73 livros hoje presentes na Bíblia católica.
Referência Histórica e Teológica: Segundo F.F. Bruce em The Canon of Scripture, “as decisões tomadas nesses concílios refletiam a prática comum da Igreja em várias partes do mundo cristão” (Bruce, 1988, p. 97).
3. A Contribuição de São Jerônimo e a Vulgata
A importância de São Jerônimo não pode ser subestimada na história da Bíblia. Sua tradução das Escrituras para o latim, a Vulgata, consolidou a Bíblia como uma obra acessível à maioria dos cristãos do Ocidente. Embora Jerônimo inicialmente tivesse dúvidas sobre a inclusão dos deuterocanônicos, ele os incorporou sob a autoridade eclesiástica.
Reflexão Teológica: "A Vulgata não foi apenas uma tradução, mas uma afirmação da autoridade da Igreja sobre a definição do cânone", como observa Scott Hahn em The Catholic Bible Dictionary (Hahn, 2009, p. 876).
4. A Reforma Protestante e a Alteração do Cânone
Martinho Lutero, líder da Reforma Protestante, reavaliou a lista de livros bíblicos e optou por remover os deuterocanônicos, resultando em um Antigo Testamento com 39 livros. Lutero questionava a autoridade desses textos, preferindo a Bíblia Hebraica como base para o cânone do Antigo Testamento.
Citação Teológica: Segundo Jaroslav Pelikan em The Reformation of the Bible/The Bible of the Reformation, “a decisão de Lutero de omitir certos livros reflete uma mudança teológica fundamental na visão da autoridade bíblica” (Pelikan, 1996, p. 114).
5. A Acessibilidade da Bíblia Antes da Reforma
Muitas vezes, argumenta-se que a Bíblia estava oculta do público antes da Reforma, mas essa visão é uma simplificação. A Igreja preservava e copiava as Escrituras em mosteiros e centros de estudo. Com a invenção da imprensa por Johannes Gutenberg no século XV, a disseminação da Bíblia tornou-se viável e acelerou sua disponibilidade.
Esclarecimento Teológico: Thomas Aquinas argumenta em Summa Theologica que "a Igreja, como guardiã da verdade divina, sempre se esforçou para que as Escrituras fossem lidas e interpretadas corretamente" (Aquinas, Summa Theologica, I-II, q. 106, a. 1).
6. Conclusão: A Bíblia como um Legado Comum
A formação da Bíblia é um testemunho da autoridade da Igreja Católica nos primeiros séculos do cristianismo. A compilação e preservação dos textos sagrados garantiram que a Palavra de Deus chegasse até nós de forma íntegra. O movimento protestante, embora tenha introduzido modificações, herdou esse legado e deu início à tradição de tradução e disseminação em massa.
A história da Bíblia é um lembrete de que, embora existam diferenças teológicas, seu propósito de transmitir a mensagem divina permanece central para todas as tradições cristãs.
POR: Wander Venerio Cardoso de Freitas
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